segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

1º Da rejeição à vitória.

1º Da rejeição à vitória.

Créditos: Gazeta press (Disponível em: http://www.gazetapress.com/busca/fotos/?q=miguel+duarte)


Filho de Ciclista e de uma mulher maravilhosa, guerreira.

Nasceu em 1955 na cidade de São Paulo.

Nos anos 60 através do meu pai conheci a corrida de bicicleta. Meu pai começou a correr de bicicleta (equipe Nitroquimica, outras bicicletarias que tinham equipe ou patrocinavam, mais tarde a Monark com o grande treinador é ex-ciclista Dias Santos vencedor da prova "Volta de Portugal" e posteriormente Pirelli).

Ele tinha uma bicicletaria em Diadema, SP e durante a tarde inteira apareciam pessoas para parabenizá-lo e também outros ciclistas, dentre eles Lorival Souza, Misturi, Nelo Breda (a bicicleta mais polida no universo), André e Justo Chacon, este grande campeão velocista de jogos abertos, o Bode sem contar com o meu tio Miguel Duarte da Silva Junior, que em pouco tempo vindo de Itanhaém já corria pela Caloi na primeira categoria e em pouco tempo ganhou a prova 9 de Julho. Eles ficavam horas conversando sobre corridas de bicicleta. Neste momento eu comecei a sentir um interesse imenso de ser um corredor como eles.
Lembro que centenas de pessoas iam lá consertar bicicletas só pra ficar a tarde inteira conversando sobre corridas com o "Ditao" (Benedito Duarte).
Toda semana ele saia para pedalar com os seus fãs, 40, 50 ciclistas com variados tipos de bicicletas (com e sem bagageiros até as antigas Philips aro 28 inclusive algumas bicicletas meia corrida de pneu 28) e saiam no maior entusiasmo para pedalar com o Ditão... dentre eles o senhor Joaquim Felisberto, Leonardo (encontrei ele a um tempo atrás) Silvio Ciliprandi, Zé Rubens, e tantos outros que vinham de outras cidades pois o meu pai era muito querido por ser muito carismático.

Quando voltaram era uma euforia total por terem treinado com o Ditão.

Esta admiração foi me envolvendo.

O ápice foi quando o meu pai me levou no velho autódromo de Interlagos e ele chegou em 4º lugar porque era um ciclista passista. Quando atacava numa subida ninguém mais o pegava.... tanto é que foi recordista de subida da velha de Santos por mais de 30 anos, só sendo superado nos anos 80 pelo ciclista Marcos Mazzaron.

Nesta corrida de Interlagos eu estava com um galão de 5 litros dando água para o meu pai e um fotografo tirou uma foto do filho dando água ao pai e esta foto foi publicada em um jornal da França, quando este jornal chegou ao Brasil pra mim foi motivo de grande alegria. Era um jornalista francês que morava aqui no Brasil e registrou este momento, Pierre Lascou.

Eu via o meu pai como ídolo e foi ai que começou a minha determinação em ser um ciclista.

Mas....

Existia um obstáculo que eu não conhecia  e nem imaginava....

Dos sete filhos homens do meu pai eu sendo o mais velho era o filho mais gordo, obeso. Um dia eu estava assistindo uma prova de ciclismo com o meu pai e ele não largou por ser um percurso muito plano.... enquanto assistíamos a prova as pessoas vinham conversar com ele e parabenizá-lo....

Uma dessas pessoas se aproximou e perguntou se eu era o filho dele e ele respondeu que sim... esta pessoa disse "Esse não serve para correr de bicicleta porque é muito gordo".

Foi a primeira vez que eu ouvi uma palavra que ia mudar a minha vida.

Com o passar do tempo eu e meus irmão com a ajuda de meu pai montamos algumas bicicletas com peças usadas e saíamos para "treinar" (treinar na época era dar várias voltas no quarteirão, percurso pequeno, sempre orientado pelo meu pai).

Até ai eu ainda não sabia da preferência do meu pai pelo filho que poderia ser o ciclista da família. Um dia eu descobri que não era eu o preferido por não ter o corpo ideal e sofri muito com a rejeição do meu próprio pai... eu o via instruindo o meu irmão e isso me magoava muito.

O golpe final foi quando um dos ciclistas que frequentavam a bicicletaria ofereceu uma bicicleta de corrida para o meu pai comprar... fiquei todo estusiasmado achando que ele iria comprar para mim por ser o filho mais velho, achei que eu seria o escolhido para ganhar aquela bicicleta.

Quase morri de tanta emoção quando o vi fechar o negócio. No final da tarde ele chamou o meu irmão do meu lado e lhe entregou a bicicleta. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo.

(choro)

Chorei por muitos dias..... mas não desisti.... continuei treinando com aqueles "ferro velho", todo torto porque não tinha dinheiro para comprar uma bicicleta decente e fui treinando...

De 1965 a 1970 eu fazia treinos com os meus irmãos.

Em 1970 arrumei um emprego em uma fabrica perto de casa. Trabalhava até as 17h e chegando em casa a minha mãe fazia dois pães como ovo frito e eu saia para treinar das 18h às 21h30.

Só que .... naquela época não havia iluminação, era tudo escuro, adaptei uma lanterna para que os carros não me atropelassem .... sem falar no frio... São Bernardo, Diadema, era muito frio...  eu colocava jornal no peito para não pegar friagem... 

Aos poucos todos os irmãos abandonaram o ciclismo e venderam a "bicicleta dos meus sonhos..." eu fui o único a continuar e treinava a noite todos os dias, de segunda a segunda.

Nos anos 70, as Casas Bahia fazia corrida de bicicletas de iniciantes e eu comecei a participar destas corridas. Sempre chegava no meio do pelotão pois ainda continuava um jovem gordinho de 15 anos.

Com 15 anos e meio participei da primeira corrida oficial da FPC (Federação Paulista de Ciclismo). Foi no bairro da Casa Verde uma prova organizada pelo Ciclo Zanolla, o qual tenho grande estima.

Cheguei em sexto lugar (até aqui treinando sozinho).

Fui convidado para correr no Ciclo Zanolla aonde competi algumas corridas até o final dos anos 70 na categoria juvenil.

Minha performance foi melhorando cada dia mais pela minha obsessão de ser um corredor.

O Ciclo Zanolla tinha 3 grandes ciclistas: o Olegário que era o único que conseguia ganhar muitas corridas no Juvenil, 1 funcionário José Carlos e mais um outro rapaz que morava nas proximidades, o Farley, sem contar o Zanolinha que era filho do Zanolla, grande ciclista em ascensão que também em pouco tempo chegou em 4º lugar na 9 de Julho. 

Naquele tempo esta prova era internacional e percorria 100 quilômetros dentro da cidade de São Paulo com a saída na Gazeta sentido Rebouças e após 100 quilômetros a chegada era no mesmo lugar, subindo a Brigadeiro Luis Antonio sentido Parque do Ibirapuera - Paulista e terminava em frente ao prédio da Gazeta onde grandes corredores se apresentavam tais como Luis Carlos Flores, vice campeão mundial e panamericano, os irmão Brepe - argentinos, Claudio Rosa, brasileiro, Roberto Barbosa, Sunzeri - italiano, Passarinho, Valdemar Arbagio e o melhor ciclista que já competiu no Brasil: o imbatível Saul Alcântara... o maior profissional que já correu o Brasil. Me espelhei nele por muitos anos. Aprendi muito observando... porque naquele tempo não se perguntava nada para os mais velhos.

Imagina você assistir de perto um ciclismo de ídolos....era como o nosso futebol de hoje todo mundo ia pras ruas assistir as corridas de rua.

Era a maior emoção quando aquele pelotão passava com estes grandes ciclistas.

Na frente do pelotão vinham as motos e carros de polícia (fusquinha) e ambulâncias em grande numero com as sirenes ligadas promovendo grande emoção nos expectadores....

Quando eu competia pelo Ciclo Zanolla conheci grandes ciclistas em ascensão como o "Pé na cova" que ganhava praticamente todas as corridas que ele competia. Ele corria pelo clube GR 7 de Setembro dirigido pelo espanhol Ramon.

Eu desejava ser um daqueles grandes ciclistas ..........

Naquela época os treinadores eram: Claudio Rosa (Caloi), Dias Santos (Monark), José de Carvalho (Pirelli), José Zanolla (Ciclo Zanolla), Zé Ramon (7 de Setembro), Progresso Ardanui (Caloi de SBC), Zé Cerquinha (São Caetano).

O ciclismo era uma grande festa. As motos acompanhavam o pelotão com o garupa segurando as rodas de reserva dos ciclistas, não existiam peças de bicicletas para vender, nem roupas de ciclistas, eu só tinha conhecimento de um na Vila Formosa chamado .... Hummmm... esqueci rs, depois eu lembro...

Além da 9 de Julho existiam grandes provas como a Volta do Estado de São Paulo, onde fiquei ao lado na chegada de grandes ciclistas portugueses como Joaquim Agostinho, Antonio Jorge Corvo e tantos outros... era o maior glamour chegar perto de um ciclista de alto nível. Era como se estivesse perto de uma astro do rock nos dias de hoje.

Nos próximos posts falarei de determinação, persistência e objetivo... vou te contar como cheguei lá.....

Foto da 9 de Julho de 1977 em que fui vencedor. Detalhe: Competição realizada de São Vicente a São Paulo subindo a Rodovia dos Imigrantes no sábado o chegando na Paulista e no domingo a continuação desta prova foram mais 60 quilômetros pelo antigo autódromo de Interlagos. Por um período a prova foi realizada em duas etapas.

Créditos: Gazeta press (Disponível em: http://www.gazetapress.com/busca/fotos/?q=miguel+duarte)


Miguel Duarte da Silva Neto

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Um comentário:

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Tive a maior felicidade e sorte do mundo quando de repente fui convocado para servir o exército... aí a história mudou completamente....   ...