segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

2º Após o juvenil...

Após o juvenil...

Fui convidado para correr no Ciclo Zanolla aonde competi algumas corridas até o final dos anos 70 na categoria juvenil.

No pouco tempo que fiquei na categoria juvenil consegui por duas vezes o primeiro lugar, a de maior expressão foi no Clube Trikanas de Coimbra em Santos... Após a competição o nosso lanche foi uma sardinhada portuguesa na brasa ... Eu não sabia como comer a sardinha....com a fome que estava meti logo a sardinha no pão para comer de repente senti um gosto de feel não sabia que tinha que limpar antes de comer...


Olhava pra todo mundo e eles estavam comendo com tanto gosto e eu só vim a saber que tinha que abrir e tirar a barrigada antes de comer meses depois. 


Kkkk


No próximo ano fui até a sede do clube Caloi de SBC que era uma equipe que treinava juvenis para o futuro na Caloi.
Chegando lá fui conversar com o técnico e diretor Sr. Progresso Ardanui.

Fui aceito para competir. O clube já tinha mais de 20 ciclistas juvenis e terceira categoria.


Ele me mandou buscar uma bicicleta alguns dias depois...qual não foi a minha surpresa quando fui buscar e era uma bicicleta para competir na terceira categoria .... Era uma bicicleta com três marchas...na categoria juvenil era uma marcha só. 

Sendo que competindo na terceira categoria eu já estaria um ano adiantado pelas normas da FPC Federação Paulista de Ciclismo e pela idade.


Treinei com afinco pois a primeira corrida do ano seria em 15 dias...


Esta corrida foi realizada no ginásio do Ibirapuera no antigo velódromo de 500 metros por volta.


Após tantas voltas predeterminadas para a corrida me posicionei bem para fazer o Sprinter e chegar em ótimo lugar...qual foi a minha surpresa quando ao virar a última curva eu já estava em primeiro.... Forcei até a chegada e levantei a mão vitorioso...foi a primeira vitória na terceira categoria no meu começo de carreira... Até aqui nunca recebi um abraço depois da conquista pois o pupilo do técnico o ciclista Renatinho havia caído e ele precisou prestar socorro...mas eu tinha um fã que torcia muito por mim...era o Sr. Justo Chacon. Foi o único que me deu parabéns. 


Porém a ida para a Caloi de SBC alterou a minha história para melhor porque a terceira categoria corria junto com as demais segunda e primeira, então quando dava a ordem de largada eu mal conseguia ficar duas ou três voltas no pelotão porque o ritmo era muito forte...tive que mudar meu treinamento a noite pois ainda trabalhava. 


Treinava muito mais rapidez e continuava treinando chegada ou Sprinter.  Com a bicicleta da terceira categoria comecei a largar lado a lado dos melhores ciclistas de São Paulo como José Marques, Venturelli, Luiz Carlos Flores, Cartão, José Pedro Miguel, todos os 15 da primeira categoria.


Um dia encontrei o ciclista Jair treinando em uma avenida em SBC ele era um ciclista novato na primeira categoria da Caloi de SBC... ele tinha vindo do futebol e o técnico após alguns treinamentos o lançou direto na primeira categoria pois ele tinha idade e potencial. Infelizmente após alguns meses de treinamento ele sofreu um acidente ao bater em um ônibus durante o treino e veio a falecer .


Após a perda do companheiro de treino mais uma vez continuei treinando sem cessar todos os dias....sempre no minimo 60 km com ou sem chuva eu saia para treinar...chegava em casa com barro ate na alma pois a região apresentava muitas avenidas com barro... Chegando em casa eu limpava a bicicleta e ia descansar...


Meu pai em raros momentos perguntava alguma coisa sobre as competições.


Fui melhorando aos poucos até conseguir em algumas provas chegar junto com o pelotão principal na chegada tentando ganhar na minha categoria... sempre chegava em terceiro ou quarto porquê a maioria dos ciclistas da terceira categoria vindos do interior não trocavam de categoria pela idade ou pelo ranking pois não eram obrigados pela federação e então eles tinham anos de experiência pois queriam ser campeões no ranking....e sem trocar de categoria as chances aumentavam.


Foram inúmeras as vezes que sai na porrada com um desses ciclistas pois eu não admitia que eles ficassem tanto tempo na mesma categoria impedindo a minha chance de conquistar alguma vitória...


Várias vezes eu discutia por qualquer coisa uma fechada, uma empurrada e eles vinham tirar satisfações....eu tinha aprendido com o meu pai uma frase... "quem bate primeiro bate melhor" então dava logo um murro no meio da cara do folgado e começava a trocar socos e eu logo agarrava o braço mais forte do oponente para não levar nenhum soco e rezava para alguém vim separar logo a briga...kkkk..



 Foi assim que fiquei com a fama de briguento.

Imagina um bostinha dando um murro naqueles homens grandalhões vindos do interior...que a gente chamava de cortador  de cana pois eram muito fortes.

Vc imagina a cena..quando terminava a corrida todos com sangue fervendo e após discutirem durante a corrida vinham tirar satisfações....eu logo agarrava no braço direito deles pois se levasse um soco seria do braço mais fraco. Depois de tudo calmo eu observava o grandalhão e pensava se eu tomasse um soco daquele cara eu ia parar na UTI ...kkkk 

Encarava o cara mas no fundo era isso que eu pensava kkkkk

A sede da Caloi em SBC era onde o técnico fazia a manutenção nas bicicletas dos ciclistas e quando eu tinha algum tempo ia lá para ouvir as conversas sobre ciclismo e política pois ele era um francês / argentino meio comunista cantor de ópera que tinha tradição no ciclismo nos anos 40 e 50... 

O técnico tinha muito orgulho do ciclsta Passarinho (José Jorge Breve) que tinha sido da Caloi SBC e tinha ido para a Caloi de São Paulo já se destacando entre os melhores... Tanto que veio a ganhar a 9 de Julho alguns anos depois.

Eu ouvia histórias do ciclismo na época e uma das mais marcantes foi a Volta do Atlântico...poucas pessoas sabem sobre esta corrida...foram mil e poucos quilômetros correndo pelas areias do sul até o sudeste do Brasil...muitos ciclistas internacionais vinham para esta competição e se organizavam em grupos pequenos durante a competição para chegar.  Eles não recebiam abastecimento durante o percurso e então saiam com os bolsos cheios de alimentos. Muitos deles caiam desmaiados de fome. Alguns encontravam cana durante o caminho e iam chupando e os estrangeiros por não conhecerem achavam que os brasileiros chupavam madeira para hidratar....foi uma das voltas ciclísticas mais dura do mundo segundo o relato do técnico....

Na minha opinião a mais dura era a Volta da Paz na Polônia.

Nas idas a sede de Caloi de  SBC  descobrir que tinha um ciclismo muito forte na Argentina .. ele morou muito tempo lá exilado da França pelo comunismo.... Ouvia atentamente os relatos e prestava muita atenção em como ele fazia a manutenção das bicicletas....era um mestre na afinação ...afinava como se fosse um peão não deixava uma folga ou muito justa em nenhum rolamento. As centragens de roda eram 100% perfeitas.
Porém sempre percebia que existia um q...vindo eu de fora não tendo sido treinado por ele eu já sentia um preconceito principalmente porque eu já chegava na frente de todos os seus preferidos....

A maioria das corridas era no interior. Nós saímos por volta das 3h, 3h30 da manhã e os ciclistas torciam para que eu perdesse a hora pois eu já incomodava eles na classificação. Isso ocorreu uma vez, me atrasei 5 minutos e quando vi a Kombi já estava virando a esquina.

Aprendi a observar o comportamento dos outros ciclistas como por exemplo...quando um ciclista está com pneu furado as vezes nem ele mesmo sabia...aprendi a observar quando um ciclista ia atacar...toda vez que um ciclista tocava no firma pé do pedal eu já sabia que ele ia atacar....aprendi a observar a expressão de cansaço no rosto, o uso da relação de marcha... quando ele pedalava solto, marcha leve ou trancado significava marcha pesada e num possível ataque seria mais lento...aprendi a me posicionar para a chegada quando faltava 3 4 voltas para obter boa colocação... Ainda continuava lutando para emagrecer.

Treinava intensamente nas avenidas de São Bernardo.

Até aqui com 16 anos... Qual foi a minha maior surpresa quando ao chegar no final do ano já estava inscrito na segunda categoria. Fiquei por seis na terceira...isso significa que eu ia competir diretamente também com os ciclistas da primeira categoria...interesse político do técnico para que os seus pupilos aparecessem pois eu estava atrapalhando na terceira categoria....

Tomei pau na segunda categoria por seis meses pois o número de quilometragem era igual a da primeira com exceção de 1 ou 2 voltas a menos no circuito para a classificação de chegada mas houve um privilégio que embora sofrendo muito eu já competia com os melhores mesmo chegando no meio do pelotão....pude observar de perto como eles competiam.... Eram os mesmos que eu vibrava ao ver chegando na nove de julho anos antes.

Mal conseguia andar algumas voltas junto com os ponteiros... A ânsia de andar com eles na ponta do pelotão era tão grande que eu ia chingando a todo momento porque ainda não tinha a técnica perfeita de andar no grupo principal....alguns diziam que era um perigo andar Perto de mim....porque eu me movia muito na bicicleta e poderia ocasionar um acidente. Serafim Bontempi que era um ciclista da elite falava "é um perigo correr atrás do Miguel...ele vai derrubar todo mundo"

Minha maior surpresa ao fazer 17 anos foi receber a notícia de que já estava na primeira categoria no final daquele ano. Não ia alterar muito pois eu já competia com atletas de elite. Sempre chegava no pelotão quando não havia subida muito forte.

Foto: Arquivo pessoal. Vencendo em Interlagos pela equipe da Caloi de São Bernardo do Campo.

Disputava chegada com qualquer um que estava do lado. Lembro de uma corrida em Interlagos seletiva para uma viagem. Era uma prova de 140 km no autódromo ...tomei 4 voltas mas não desisti...isso significa que andei 28 km a menos pois para correr em Interlagos tinha que ser passista e eu so treinava em avenida e circuitos. 

Já algum tempo era motivo de gozação de muitos ciclista pois era um gordinho no meio dos ciclistas de elite.

Ninguém jamais imaginaria que um dia eu poderia estar no topo. Todos os domingos de corrida eu tomava pau um atrás do outro...sempre lutando pela classificação na chegada.

Me sentia como um ciclista carregando um fardo de pedras pois os quilos a mais pesavam no corpo.  A falta de ritmo também prejudicava muito. Chegava melhor quando era prova em circuito. Caí muito na ânsia de chegar bem ...lembro de uma vez no ano de 74 que eu caí as cinco primeiras corridas de ano... Até ouvir uma crítica quando eu estava sentado na Kombi chorando de nervoso ...decidi que teria que melhorar a ansiedade ouvi uma voz familiar dizendo..."isso aí é o que acontece quando tomam bolinha" e eu nunca nem sequer havia chegado perto disso.

Só ouvia do treinador que eu dava muito prejuízo a equipe pois quebrava muita bicicleta...

Tive a maior felicidade e sorte do mundo quando de repente fui convocado para servir o exército... aí a história mudou completamente....  

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